quarta-feira, 18 de maio de 2022

Benigna preferiu morrer do que pecar contra a castidade

Será beatificada no dia 24 de Outubro, dia em que foi assassinada, Benigna Cardoso da Silva. Nascida em Santana do Cariri (Ceará, Brasil), no dia 15 de Outubro de 1928, filha de José Cardoso da Silva e Thereza Maria da Silva, ficou órfã de pai e mãe muito cedo, tendo sido adoptada juntamente com seus irmãos mais velhos pela família “Sisnando Leite”, proprietária do Oiti dos Cirineus, no Distrito de Inhumas.

Era uma jovem muito simples e cheia de humildade. De estatura média, Benigna era magra, de cabelos e olhos castanhos meio ondulados, morena clara, rosto arredondado e queixo afinado. Tinha um leve estrabismo em um dos olhos.

Modesta por natureza, tímida e reservada, não usava vestidos sem mangas, curtos nem com decotes. A sua generosidade, carisma e simpatia a fazia querida e cativada por todos. Em casa, desenvolvia bem todas as tarefas domésticas, com intuito de ajudar a sua família adoptiva. Era boa filha, sempre obediente e prestável.

Extremamente religiosa e temente a Deus, nutria um grande desejo de fazer a Primeira Comunhão, e depois desse sonho realizado, seguia à risca os seus mandamentos. Não perdia as Missas e fazia penitência nas primeiras sextas-feiras em devoção ao Sagrado Coração de Jesus; sempre na companhia da sua “madrinha Ozinha” e da “Tia Bezinha". Era assídua na participação eucarística.

Aos 12 anos de idade, já lendo e escrevendo, Benigna começou a ser assediada por um rapaz chamado Raul Alves com propostas de namoro, rejeitadas de forma categórica por ela, que nada queria com ele a esse respeito. Procurou imediatamente o Pe. Cristiano Coêlho, vigário da época, para pedir conselhos sobre o assunto da perseguição de Raul, e este lhe aconselhou a ir estudar para Santana, oferecendo-lhe uma Bíblia, que se tornou o seu livro de cabeceira, que guardava com esmero e carinho. Encantava-se com as gravuras e as histórias do Antigo e do Novo Testamento. Ela encontrou apoio na palavra de Deus para resistir às tentações de Raul.

A caminho da escola, mostrava-se sempre uma defensora da natureza, não deixando que os seus colegas maltratassem as plantinhas nem tirassem as suas flores ou galhos. Na sala de aula, era uma aluna exemplar; muito estudiosa, cuidadosa, pontual e colaboradora. Gostava sempre de ajudar os seus colegas para não vê-los punidos com a palmatória ou de joelhos nos caroços de milho, facto que a deixava bastante triste, e às vezes até chorava com os castigos aplicados aos outros.

Depois de várias tentativas sem sucesso, numa tarde fatídica de Sexta-Feira, dia 24 de Outubro de 1941, sabendo que Benigna ia buscar água numa cacimba próxima à sua casa, Raul ficou à espreita atrás do mato, observando-a, com os seus recém-completados 13 anos. Ao aproximar-se, abordou-a sexualmente. Ela recusou, ele insistiu tentando violentá-la. Ela disse “não” com veemência e lutou heroicamente para se defender do acto pecaminoso, que no seu entender cristão ofenderia o seu corpo .

Raul, ao perceber que Benigna nada aceitaria, foi tomado por um ódio feroz; sacou de um facão atroz e golpeou-a cortando-lhe os dedos da mão. Ela relutou de forma sobrehumana contra o seu algoz, preferindo morrer a pecar contra a castidade. Depois disso, foi atingida na testa, nas costas e por fim no pescoço, cujo golpe lhe deixou a cabeça quase decepada.

Ao vê-la morta, com o corpo estendido sobre as pedras e o sangue inocente se esvaindo pelo chão, Raul foge, sendo o corpo da vítima encontrado logo em seguida já sem vida.

O seu corpo foi sepultado na manhã do sábado, acompanhado de comoção geral. Os requintes de crueldade do bárbaro crime abalou todo a população. Desde essa data, começaram as visitas ao túmulo e ao local do martírio até o tempo presente. As rogativas feitas à “Santa de Inhumas”, assim como as promessas são geradoras de graças alcançadas por intercessão dessa memorável Jovem , que é tida por todos como “santa” e “Heroína da Castidade”.

O assassino foi preso, pagou pelo seu crime e, arrependido, voltou ao local 50 anos depois para chorar, elevar preces e pedir perdão a Benigna. Neste retorno, relatou a sua mudança de vida, e a sua conversão ao cristianismo. Fez penitências para salvar a sua alma, e pedindo a intercessão de Benigna, alcançou graças recorrendo sempre à sua inocente vítima, a quem sempre rogava nas horas de aflição. Segundo ele, o seu acto foi de loucura e “ela se mostrou virtuosa, quando resistiu para não pecar e não apenas para ver se escaparia.”

Sobre Benigna o Padre Cristiano deixou escrito ao lado do seu baptistério: ”Morreu martirizada, às 4 horas da tarde, no dia 24 de Outubro de 1941, no sitio Oiti. Heroína da Castidade, que a sua santa alma converta a freguesia e sirva de protecção às crianças e às famílias da Paróquia. São os votos que faço à nossa santinha.”


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