sexta-feira, 10 de abril de 2015

Não perceber doutrina sobre casamento é não acreditar na Graça

Sua Excelência Mark Davies, Bispo de Shrewsbury (fotografia), chamou a atenção para um dos aspectos mais importantes da presente crise relativa ao matrimónio e à família.

Numa homilia que pregou na Missa Crismal de Quinta-feira Santa, o Bispo Davies disse:
Nos nossos pensamentos sobre a vocação do casamento e da família quão facilmente podemos cair em pensar nesta vocação apenas em termos sociológicos ou psicológicos e em esquecer-nos de ter em consideração a graça de Deus, pela qual o casamento e qualquer vocação se torna possível.
Ele liga este fracasso ao:
Drama que S. Lucas conta da sinagoga de Nazaré, em que o próprio povo de Deus rejeitou a grandeza do seu chamamento. Não conseguiram ver como a salvação de Deus se estava a manifestar entre eles nas realidades ordinárias da vida de família e de trabalho.
Continuou o bispo:
… este drama continua hoje sempre que não somos capazes de reconhecer a vocação do casamento e da família como uma chamada à santidade; a vocação ao sacerdócio e à vida consagrada como dons de Cristo para a Sua Igreja; a grandeza da vocação laical, de um Cristão no mundo para transformar as realidades seculares e não se conformar com elas.
Com palavras que têm grande relevância durante a actual controvérsia sobre a admissão de divorciados e "recasados" à Sagrada Comunhão, disse:
A graça e o chamamento de Deus vêem-se sempre nas nossas vidas normais e especialmente quando somos capazes de viver e perseverar de uma forma que nunca sonhámos ser possível.
Ele continuou:
Na nossa cultura dominante, as pessoas à nossa volta desesperam com compromissos para a vida toda e normalmente vêem as promessas do casamento como assustadoras e incertas; os nossos contemporâneos frequentemente vêem a castidade, o amor puro dentro do casamento e assim como fora dele, como praticamente impossível de atingir; e o sacerdócio celibatário ou a vida consagrada quase como aventuras irresponsáveis diante da fraqueza humana. E tudo porque nunca se olha para uma das partes da equação: a graça de Deus que sozinha torna as nossas vocações possíveis.
Na sua Exortação Apostólica Familiaris Consortio, o Papa João Paulo II ensinou que o avanço para uniões civis inválidas por parte dos civilmente divorciados é "um mal" que "deve ser resolvido e sem atraso." (FC, 84)

Depois de reconhecer as diferentes situações que existem e os motivos que levam as pessoas a estas situações, o Papa expressou claramente o ensinamento perene da Igreja:
A Igreja, contudo, reafirma a sua práxis, fundada na Sagrada Escritura, de não admitir à comunhão eucarística os divorciados que contraíram nova união. Não podem ser admitidos, do momento em que o seu estado e condições de vida contradizem objectivamente aquela união de amor entre Cristo e a Igreja, significada e actuada na Eucaristia. Há, além disso, um outro peculiar motivo pastoral: se se admitissem estas pessoas à Eucaristia, os fiéis seriam induzidos em erro e confusão acerca da doutrina da Igreja sobre a indissolubilidade do matrimónio. 
A reconciliação pelo sacramento da penitência - que abriria o caminho ao sacramento eucarístico - pode ser concedida só àqueles que, arrependidos de ter violado o sinal da Aliança e da fidelidade a Cristo, estão sinceramente dispostos a uma forma de vida não mais em contradição com a indissolubilidade do matrimónio. Isto tem como consequência, concretamente, que quando o homem e a mulher, por motivos sérios - quais, por exemplo, a educação dos filhos - não se podem separar, assumem a obrigação de viver em plena continência, isto é, de abster-se dos actos próprios dos cônjuges" (FC, 84)
O Cardeal Walter Kasper, por outro lado, rejeitou a ideia de que tal ideal possa ser atingido. Na sua extensa entrevista à revista Commonweal, em Fevereiro de 2014, Kasper disse:

"Viver juntos como irmão e irmã? É óbvio que tenho o maior respeito pelos que assim vivem. Mas é um acto heróico e o heroísmo não é para o Cristão normal."

As afirmações de Kasper sugerem uma falta de confiança na graça de Deus, que disse aos seus discípulos "estas coisas são impossíveis ao homem, mas não a Deus; para Deus, tudo é possível." (Mc 10, 27)

S. Paulo ensinou que a graça seria sempre dada ao homem para evitar o pecado:
Não vos surpreendeu nenhuma tentação que tivesse ultrapassado a medida humana. Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados acima das vossas forças, mas, com a tentação, vos dará os meios de sair dela e a força para a suportar. (1 Cor 10, 13)
O Concílio Ecuménico de Trento confirmou isto no seu Decreto magisterial sobre a Justificação, que diz:
Mas ninguém, por muito justificado que esteja, se deve considerar exempto de observar os mandamentos; ninguém devia dizer essa fraca afirmação, em tempos proibida pelos Padres como anátema, de que a observância dos mandamentos de Deus é impossível para alguém que esteja justificado. 
Porque Deus não manda impossibilidades, mas ao comandar motiva para fazer o melhor que se puder e para rezar pelo que não se consegue e ajudará para que seja possível fazer.
O decreto continua para definir infalivelmente que:
Se alguém disser que os mandamentos de Deus são, mesmo para alguém justificado e maduro na graça, impossíveis de manter, seja anátema.
(Decreto sobre a Justificação, Concílio de Trento, Sessão VI)

Negar que os "recasados" não são chamados a reformar verdadeiramente as suas vidas e a viver de acordo com a lei moral, é negar o poder da graça de Deus e contradizer o ensinamento infalível da Igreja Católica.

in Voice of the Family


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