terça-feira, 31 de dezembro de 2024
O último santo do ano civil: São Silvestre, Papa e Confessor
São Silvestre encerra o ano civil. Encerra também, na História da Igreja, uma época importante e inicia uma nova era. Durante três séculos, a Igreja de Deus esteve exposta às mais cruéis perseguições.
O Império romano empregava todo o seu poder para aniquilar o Reino de Deus; o sangue corria em torrentes. Esforçavam-se em regra para inventar novos tormentos. Além disso, astúcia, lisonja, seduções, tudo quanto pode cegar os sentidos, tudo o que a arte e a ciência terrenas podem proporcionar, estava a serviço desta luta - e tudo debalde.
A Igreja permaneceu ilesa, a despeito de todos os planos, afrontando tudo. Os seus membros morriam aqui e ali, mas a Igreja continuava a viver, e sempre novos elementos entravam, para preencher as lacunas. Por fim, o Império romano se curvou diante de Cristo, e colocou a Cruz sobre o seu diadema e o sinal de Cristo sobre a águia de suas legiões. Cristo tinha vencido na possante peleja, e o Papa Silvestre I viu como tudo mudava. Viu o suplício da cruz ser abolido. Viu cristãos confessarem livre e francamente a sua fé e erigirem casas de Deus. Viu o próprio imperador Constantino edificar o palácio (Lateranense) que durante muitos séculos foi a residência do Vigário de Cristo.
Segundo o testemunho de historiadores fidedignos, Silvestre nasceu em Roma, filho de pais cristãos, que bem cedo o confiaram aos cuidados do sacerdote Cirino, cujo preparo intelectual e exemplo de vida santa fizeram com que o discípulo adquirisse uma formação extraordinariamente sólida cristã. Estava ainda em preparação a última - isto é, a décima - e de todas as mais bárbaras das perseguições dioclecianas, quando Silvestre, das mãos do Papa Marcelino, recebeu as ordens sacerdotais. Teve, pois, ocasião de presenciar os horrores desta investida do inferno contra o Reino de Cristo. Foi testemunha ocular do heroísmo das pobres vítimas do furor desmedido do tirano coroado. Em 314, por voto unânime do povo e do clero, foi proposto para ocupar a cadeira de São Pedro, como sucessor do Papa Melquíades.
Com a vitória do Cristianismo e a conversão do imperador Constantino, viu-se o Papa diante da grande tarefa de, por meio das sábias leis, introduzir a Religião Cristã na vida dos povos, dando-lhe formação concreta e definitiva. A paz, infelizmente, não foi de longa duração. Duas terríveis heresias levantaram-se contra a Igreja, arrastando-a para uma luta gigantesca de quase um século de duração.
Uma foi a dos Donatistas, que tomou grande incremento na África. A Igreja, ensinavam eles, deve compor-se só de justos; no momento em que seu grémio tolera pecadores, deixa de ser a Igreja de Cristo. O baptismo administrado por um sacerdote que está em pecado mortal é inválido. Um bispo que esteja em pecado mortal não pode crismar nem ordenar sacerdotes validamente.
Pior e mais perigosa foi a outra heresia, o Arianismo, heresia propalada pelo sacerdote Ário, da Igreja de Antioquia. Ensinava este heresiarca que a Jesus Cristo, Filho de Deus feito homem, faltavam as atribuições divinas; isto é, não era consubstancial ao Pai, portanto não era Deus, mas mera criatura, de essência diversa da do Pai e de natureza mutável.
Tanto contra a primeira como contra a segunda, o Papa Silvestre tomou enérgica atitude. A dos Donatistas foi condenada no Concílio de Arles. O arianismo teve sua condenação no célebre Concílio de Nicéia (325), ao qual compareceram 317 bispos. O Papa Silvestre, já muito idoso, não podendo comparecer na grande Assembleia, fez-se nela representar por dois sacerdotes de sua inteira confiança, que, em lugar do Papa presidiram as sessões. Estas terminaram com a soleníssima proclamação dogmática da fórmula: "O Filho é consubstancial ao Pai; é Deus de Deus; Deus verdadeiro de Deus Verdadeiro; gerado, não feito, da mesma substância com o Pai".
O Papa Silvestre assinou as resoluções do Concílio. Na presença de 272 bispos, foram as mesmas em Roma solenemente confirmadas. Esta cerimónia teve lugar diante da imagem de Nossa Senhora Alegria dos Cristãos, cujo altar, em sinal de gratidão à Maria Santíssima, o Papa mandara erigir logo que as perseguições tinham chegado ao seu termo.
Sobre o túmulo de São Pedro, o Papa, auxiliado pelo Imperador, construiu a magnífica basílica vaticana, com suas oitenta colunas de mármore, templo que durante 1100 anos viu chegar milhares e milhares de peregrinos provenientes de todas as partes do mundo, ansiosos de prestar homenagens à "Rocha" sobre a qual Cristo tinha edificado a Sua Igreja - até que deu lugar à actual grandiosa Basílica de São Pedro.
Durante o seu Pontificado, o Papa Silvestre governou a Igreja de Deus dando sobejas provas de prudência e sabedoria, glorificando-a com as virtudes de uma vida santa e apostólica.
in Página do Oriente
segunda-feira, 30 de dezembro de 2024
O último dia do ano do Beato Carlos da Áustria
O Beato Carlos da Áustria (Imperador da Áustria) a rezar na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, no Tirol, em 1916. |
O Beato Carlos da Áustria foi o último Imperador da Áustria, Rei da Hungria, Croácia e Boémia. No final do ano de 1921 foi exilado, com a sua família, na Ilha da Madeira. Aceitou a vontade de Deus e perdoou os seus inimigos. Do último dia desse ano, a poucos meses da sua morte, relata-se:
«À tarde, como devoção de encerramento do ano, houve na capela da casa uma solene Bênção Eucarística. Estávamos apenas o Imperador, a Imperatriz e nós. Também foi rezado o Te Deum. Atrás de nós, ficava um ano que tinha sido o mais duro da vida do Servo de Deus. Ele encontrava-se longe da pátria, no exílio; na mais drástica necessidade material; estava separado de seus filhos e não sabia o que o dia seguinte haveria de lhe trazer de mal. Durante o Te Deum, nós, um após o outro, fomos nos silenciando, porque a dor nos fazia fugir a voz. Somente o Servo de Deus manteve-se firme e entoou forte e claramente o cântico ambrosiano até o fim, acentuando cada palavra. (...)
Olhei-o com admiração. Percebia-se com toda evidência que para ele, naquele momento, existia apenas Deus — ninguém mais — e que aquele Te Deum era um íntimo diálogo entre Deus e o seu mais fiel servidor. Na época, ele não sabia se tornaria a ver seus filhos, não sabia o que o dia seguinte haveria de lhe trazer, e contudo, rezou com muito fervor aquela oração de acção de graças. [...] O Beato Carlos havia aprendido o sentido de seu reinado: entregar tudo Àquele de quem ele tudo havia recebido. Tanto que, ao final de sua vida, ele dirá à sua esposa: “Deus deu-me a graça de que, sobre a terra, não exista mais nada que eu não esteja pronto a sacrificar por seu amor, para o bem da Santa Igreja”
sábado, 28 de dezembro de 2024
Dia dos Santos Inocentes
Um trágico episódio de sangue é narrado apenas pelo evangelista São Mateus, que se dirige principalmente aos leitores provenientes do judaísmo com a intenção de demonstrar que em Jesus se cumpriram as antigas profecias, até aquela do grito de dor de Raquel chorando os próprios filhos.
Os meninos de Belém e dos arredores, que o suspeitoso e sanguinário Herodes mandou matar, com a esperança de suprimir o Messias-rei, são as primícias dos redimidos e santificados pelo Salvador Jesus, segundo a sua própria promessa: "Aquele que tiver perdido a sua vida por minha causa encontra-la-á".
A festividade dos santos Inocentes aparece já no calendário cartaginês do século IV, e pouco depois no Sacramentário Leonino. O poeta Prudêncio apelida-os de "Flores martyrum", as primeiras flores germinadas em torno do berço do Redentor, quais "comites Christi" (a comitiva ou séquito de Cristo; isto é, os mais próximos de Cristo no seu percurso terreno e os primeiros a dar testemunho d'Ele através martírio).
A festa de hoje, instituída pelo Papa São Pio V, ajuda-nos a viver com profundidade o tempo da Oitava do Natal. Esta festa encontra o seu fundamento nas Sagradas Escrituras:
Quando os Magos chegaram a Belém, guiados por uma estrela misteriosa, “encontraram o Menino com Maria e, prostrando-se, adoraram-No e, abrindo os seus tesouros, ofereceram-Lhe presentes – ouro, incenso e mirra. E, tendo recebido aviso em sonhos para não tornarem a Herodes, voltaram por outro caminho para a sua terra. Tendo eles partido, eis que um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse-lhe: ‘Levanta-te, toma o Menino e a sua mãe e foge para o Egipto, e fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o Menino para o matar’. E ele, levantando-se de noite, tomou o Menino e a sua mãe, e retirou-se para o Egipto. E lá esteve até à morte de Herodes, cumprindo-se deste modo o que tinha sido dito pelo Senhor por meio do profeta, que disse: ‘Do Egipto chamarei o meu filho’. Então Herodes, vendo que tinha sido enganado pelos Magos, irou-se em extremo e mandou matar todos os meninos que havia em Belém e arredores, de dois anos para baixo, segundo a data que tinha averiguado dos Magos. Então se cumpriu o que estava predicto pelo profeta Jeremias: ‘Uma voz se ouviu em Ramá, grandes prantos e lamentações: Raquel chorando os seus filhos, sem admitir consolação, porque já não existem’” (Mt 2,11-20).
Quanto ao número de assassinados, os Gregos e o jesuíta Salmerón (1612) diziam ter sido 14 mil; os Sírios 64 mil; o Martirológio de Haguenau (Baixo Reno) 144 mil. Foram muitas as Igrejas que pretenderam possuir relíquias deles.
Na Idade Média, nos bispados que possuíam escola de meninos de coro, a Festa dos Inocentes ficou sendo a destes. Começava nas vésperas de 27 de Dezembro e acabava no dia seguinte. Tendo escolhido entre si um “bispo”, os cantorzinhos apoderavam-se das estolas dos cónegos e cantavam em vez deles. A este bispo improvisado competia presidir aos ofícios, entoar o Inviatório e o Te Deum e desempenhar outras funções que a liturgia reserva aos prelados maiores. Só lhes era retirado o báculo pastoral ao entoar-se o versículo do Magnificat: Derrubou os poderosos do trono, no fim das segundas vésperas. Depois, o “derrubado” oferecia um banquete aos colegas, a expensas do cabido, e voltava com eles para os seus bancos. Esta extravagante cerimónia também esteve em uso em Portugal, principalmente nas comunidades religiosas.
A festa de hoje também é um convite a reflectirmos sobre a situação actual desses milhões de “pequenos inocentes”: crianças vítimas do descaso, do aborto, da fome e da violência. Rezemos neste dia por elas e pelas nossas autoridades, para que se empenhem cada vez mais no cuidado e no amor às nossas crianças, pois delas é o Reino dos Céus.
Santos Inocentes, rogai por nós!
in Pale Ideas
sexta-feira, 27 de dezembro de 2024
Reforma litúrgica censura mais uma vez a Sagrada Escritura
No dia 26 de Dezembro a Igreja Católica celebra Santo Estêvão, o primeiro mártir. Na Missa do dia lê-se o relato do martírio do diácono Estêvão. Acontece que na reforma litúrgica de 1970 essa leitura foi encurtada, tendo sido deixada de fora a oração que o mártir faz a Deus pedindo perdão pelos seus algozes. Como se pode ver na imagem, a leitura termina com a oração "Senhor Jesus, recebe o meu espírito". Depois disso, prossegue deste modo o relato:
“Depois, posto de joelhos, bradou com voz forte: «Senhor, não lhes atribuas este pecado.» Dito isto, adormeceu no Senhor.”
Por que razão terá sido esta parte excluída da nova liturgia (sendo que se encontra na liturgia tradicional)? Será que este perdão pedido pelo santo - porventura a parte mais heróica do martírio de Santo Estêvão - algo prejudicial a quem vai à Missa? Como explicar que a reforma tenha sido feita para dar mais "Escritura" aos fiéis e sistematicamente a tenha censurado de partes consideradas 'incómodas'?
A obra prima de São João Evangelista
São João evangelista começou o seu evangelho com um texto que encantou todas as gerações. O prólogo é duma beleza e profundidade tais que é lido no final de todas as Missas em Rito Romano Tradicional. Vale a pena ler e rezar.
Latim:
In princípio erat Verbum, et Verbum erat apud Deum, et Deus erat Verbum. Hoc erat in princípio apud Deum. Omnia per ipsum facta sunt: et sine ipso factum est nihil, quod factum est: in ipso vita erat, et vita erat lux hóminum: et lux in ténebris lucet, et ténebræ eam non comprehendérunt.
Fuit homo missus a Deo, cui nomen erat Joánnes. Hic venit in testimónium, ut testimónium perhibéret de lúmine, ut omnes créderent per illum. Non erat ille lux, sed ut testimónium perhibéret de lúmine. Erat lux vera, quæ illúminat omnem hóminem veniéntem in hunc mundum. In mundo erat, et mundus per ipsum factus est, et mundus eum non cognóvit.
In própria venit, et sui eum non recepérunt. Quotquot autem recepérunt eum, dedit eis potestátem fílios Dei fíeri, his, qui credunt in nómine ejus: qui non ex sanguínibus, neque ex voluntáte carnis, neque ex voluntáte viri, sed ex Deo nati sunt. (Hic genuflectitur) Et Verbum caro factum est, et habitávit in nobis: et vídimus glóriam ejus, glóriam quasi Unigéniti a Patre, plenum grátiæ et veritátis.
Português:
No princípio existia o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Este estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram por Ele criadas, e nada daquilo que foi criado teria sido criado sem Ele. N’Ele havia vida, e a vida era a luz dos homens. A luz resplandeceu nas trevas, mas as trevas a não receberam.
Apareceu um homem, mandado por Deus, e o seu nome era João, o qual veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que por ele todos acreditassem. Ele não era a luz, mas aquele que havia de dar testemunho da luz. Existia a luz verdadeira, a luz que ilumina todo o homem que vem a este mundo. Ele estava no mundo, e o mundo, embora houvesse sido criado por Ele, O não conheceu.
Veio ao que era seu, e os seus O não receberam. Porém, Ele a todos quantos O receberam e aos que acreditaram no seu nome deu o poder de serem filhos de Deus, os quais não nasceram do sangue, nem do desejo da carne, mas somente da vontade de Deus. E o Verbo fez-se carne (genuflecte-se) e habitou entre nós; e contemplamos a sua glória, como era própria do Filho Unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade.
quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
A abertura da Porta Santa da Basílica de São Pedro em Rito Antigo
O Ano Santo ou Jubileu deve a sua instituição ao Papa Bonifácio VIII, em 1300, e as augustas cerimónias da sua abertura e encerramento são fruto do amor ao sagrado e à liturgia que animava o Papa Alexandre VI, que as empregou em 1500.
De acordo com este cerimonial secular, na véspera de Natal, o Sumo Pontífice, envergando um manto branco e uma mitra de ouro, dirige-se à Capela Sistina acompanhado pelo Sacro Colégio e pelos outros membros da Capela Papal. Aqui, adora o Santíssimo Sacramento exposto e, recebendo uma vela, entoa o Veni Creator Spiritus. Em seguida, forma-se a procissão: o Papa é erguido na sede gestatória pelos prelados da Segnatura vestido com roquete e capa de asperges, endossando na cabeça a preciosa mitra e segurando na mão uma vela.
Quando o sumptuoso cortejo chega à Porta Santa, o Santo Padre toma lugar no trono aí erigido, ladeado por dois Cardeais diáconos e rodeado pelos Cardeais vestidos com as vestes brancas das respectivas ordens (capa, casula, dalmática), e pelos Patriarcas, Arcebispos, Bispos e Abades mitrados vestidos com capas brancas.
Terminado o cântico, o Pontífice desce do seu trono para se dirigir à Porta Santa, ainda emparedada desde o Jubileu anterior, e abri-la. Primeiro receba do Cardeal Penitenciário-Mor um martelo de prata com o qual dá três pancadas na parede. A cada golpe, recita um dos seguintes versos [1], ao qual respondem os cantores.
℣. Aperite mihi portas justitiae.
℞. Ingressus in ea confitebor Domino.
℣. Introibo in domum tuam, Domine.
℞. Adorabo ad templum sanctum tuum in timore tuo.
℣. Aperite portas quoniam nobiscum Deus.
℞. Qui fecit virtutem in Israel.
Dado o último golpe, o Papa regressa ao seu trono e, enquanto a parede era derrubada pelos Sanpietrini, canta os seguintes versos e orações [2]:
℣. Domine exaudi orationem meam.
℞. Et clamor meus ad te veniat.
℣. Dominus vobiscum.
℞. Et cum spiritu tuo.
Oremus.
Actiones nostras, quaesumus Domine, aspirando praeveni, et adjuvando prosequere; ut cuncta nostra oratio et operatio a te semper incipiat, et per te coepta finiatur. Per Christum Dominum nostrum.
℞. Amen.
Entretanto, ao som do salmo Jubilate Deo omnis terra, os penitenciários de S. Pedro, vestidos com as suas vestes sacerdotais, lavam com água lustral e secaram as ombreiras e os umbrais da Porta Santa. Terminado este rito, retoma-se o diálogo orante entre o Sumo Pontífice e os cantores [3]:
℣. Haec dies quam fecit Dominus.
℞. Exultemus et laetemur in ea.
℣. Beatus populus tuus, Domine.
℞. Qui scit jubilationem.
℣. Haec est porta Domini
℞. Justi intrabunt in eam.
℣. Domine exaudi orationem meam.
℞. Et clamor meus ad te veniat.
℣. Dominus vobiscum.
℞. Et cum spiritu tuo.
Oremus.
Deus, qui per Moysen famulum tuum populo Israelitico Annum Jubilæi et remissionis instituisti: concede propitius nobis famulis tuis Jubilaei annum hunc tua auctoritate institutum, quo Portam hanc populo tuo ad preces tuae Majestati porrigendas ingredienti sollemniter aperiri voluisti, feliciter inchoare; ut, in eo venia atque indulgentia plenae remissionis omnium delictorum obtenta, cum dies nostrae advocationis advenerit, ad cœlestem gloriam perfruendam tuae misericordiae munere perducamur. Per Christum Dominum nostrum.
℞. Amen.
Depois de ter cantado esta última oração, o Papa ajoelha-se no limiar da Porta Santa e, segurando a cruz com a mão direita e a vela com a esquerda, entoa o Te Deum. Depois de ter cantado a primeira estrofe do hino, atravessa o limiar da Porta do Perdão como o primeiro dos romanos.
Seguem-se-lhe, por ordem hierárquica, os Cardeais, os representantes do Episcopado, a Prelatura, os membros da Capela e todo o povo. A este rito impressionante segue-se, na Basílica, o canto das primeiras Vésperas de Natal.
[1] ℣. Abri-me as portas da justiça. ℞. E eu entrarei para glorificar o Senhor. ℣. Entrarei na tua casa, Senhor. ℞. Adorarei no teu santo templo com o teu temor. ℣. Abri as portas: Deus está connosco. ℞. Ele fez maravilhas em Israel.
[2] ℣. Ouve, Senhor, a minha oração. ℞. E que os meus gritos cheguem até ti. ℣. O Senhor esteja convosco. ℞. E com o vosso espírito. Oremos. Pedimos-te humildemente, Senhor, que ajudes as nossas acções com as tuas inspirações e que as acompanhes com a tua santa ajuda; que as nossas orações e todas as nossas obras comecem sempre por ti e por ti iniciadas cheguem ao fim. Por Jesus Cristo, nosso Senhor. Assim seja.
[3] ℣. Este é o dia que o Senhor fez. ℞. Exultemos e alegremo-nos com ele. ℣. Abençoado é o teu povo, Senhor. ℞. Que conhece a sua verdadeira alegria. ℣. Esta é a porta do Senhor. ℞. Os justos entrarão por ela. ℣. Ouve, Senhor, a minha oração. ℞. E os meus gritos chegarão até ti. ℣. O Senhor esteja contigo. ℞. E com o vosso espírito. Oremos. Senhor Deus, que através do vosso servo Moisés instituístes e concedestes ao povo de Israel o ano do Jubileu e da remissão: Fazei que nós, vossos servos, iniciemos com alegria este ano do Jubileu, instituído pela vossa autoridade, e no qual quisestes que se abrisse solenemente para nós, vosso povo, esta porta, pela qual podemos entrar para oferecer as nossas orações à vossa divina Majestade, a fim de que, tendo alcançado nela o mais completo perdão e indulgência de todos os nossos pecados, quando chegar o dia da nossa vocação, possamos, pelo dom da vossa misericórdia, ser transferidos para a posse da vossa glória eterna. Por Jesus Cristo, nosso Senhor. Assim seja.
in Radio Spada
Dia de Santo Estêvão
O Natal é um dia tão importante que a Igreja o comemora durante 8 dias. Por isso hoje ainda é Natal: Santo Natal! Nesta oitava são comemorados alguns santos que estão relacionados directa ou indirectamente com o Natal.
Hoje é dia de Santo Estêvão, o primeiro mártir da Igreja, o primeiro a morrer conscientemente pela Fé em Nosso Senhor Jesus Cristo. No dia 28 será a vez dos Santos Inocentes, que foram os primeiros mártires sem terem consciência de o serem: os bebés exterminados por Herodes na tentativa de matar o Menino Jesus. Amanhã, dia 27, será a vez de São João Evangelista cujo prólogo (início) do Evangelho que escreveu descreve na perfeição, e inigualável elevação, a encarnação de Deus.
O martírio de Santo Estêvão está descrito nos capítulos VI e VII dos Actos dos Apóstolos. Foi sentenciado à morte pelos judeus por ser cristão. Enquanto era lapidado ficou imóvel a rezar, de joelhos e pedia perdão a Deus pelo pecado dos seus algozes. Isto aconteceu com a cumplicidade de Saulo - mais tarde o grande São Paulo - que observava e aprovada aquela execução.
Exactamente no dia a seguir ao nascimento do Deus-Menino a Igreja comemora o primeiro que deu a vida para que a melhor notícia de todos os tempos chegasse às futuras gerações e, eventualmente, até nós.
quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
O Natal descrito pelos Padres da Igreja
«Reconheçamos o verdadeiro dia e tornemo-nos dia! Éramos, na verdade, noite quando vivíamos sem a fé em Cristo. E uma vez que a falta de fé envolvia, como uma noite, o mundo inteiro, aumentando a fé a noite veio a diminuir. Por isso, com o dia de natal de Jesus nosso Senhor a noite começa a diminuir e o dia cresce. Por isso, irmãos, festejemos solenemente este dia; mas não como os pagãos que o festejam por causa do astro solar; mas festejemo-lo por causa daquele que criou este sol. Aquele que é o Verbo feito carne, para poder viver, em nosso benefício, sob este sol: sob este sol com o corpo, porque o seu poder continua a dominar o universo inteiro do qual criou também o sol. Por outro lado, Cristo com o seu corpo está acima deste sol que é adorado, pelos cegos de inteligência, no lugar de Deus que não conseguem ver o verdadeiro sol de justiça».
Santo Agostinho
Santo Agostinho
«Ele está deitado numa manjedoura, mas contém o universo inteiro; mama num seio materno, mas é o pão dos anjos; veio em pobres panos, mas reveste-nos de imortalidade; é amamentado, mas é também adorado; não encontrou lugar na estalagem, mas constrói para si um templo no coração dos seus fiéis. Tudo isto para que a fraqueza se tornasse forte e a prepotência se tornasse fraqueza. Por isso, não só não menosprezamos, mas mais admiramos o seu nascimento corporal e reconhecemos neste acontecimento quanto a sua imensa dignidade se humilhou por nós».
Santo Agostinho
Santo Agostinho
«Chama-se dia do Natal do Senhor a data em que a Sabedoria de Deus se manifestou como criança e a Palavra de Deus, sem palavras, imitou a voz da carne. A divindade oculta foi anunciada aos pastores pela voz dos anjos e indicada aos magos pelo testemunho do firmamento. Com esta festividade anual celebramos, pois, o dia em que se realizou a profecia: A verdade brotou da terra e a justiça desceu do céu (Sl 84,12)».
Santo Agostinho
Santo Agostinho
«Neste dia, o Verbo de Deus revestiu-se de carne e nasceu de Maria virgem. Nasceu de modo admirável... Donde veio Maria? De Adão. Donde veio Adão? Da terra. Se Adão veio da terra e Maria de Adão, também Maria é terra. E se Maria é terra, entendemos quando cantamos: a verdade brotou da terra».
Santo Agostinho
Santo Agostinho
«Jesus é o novo sol que atravessa as paredes, invade os infernos, perscruta os corações. Ele é o novo sol que com os seus espíritos faz reviver o que está morto, restaura o que está velho, levanta o que está decadente e purifica ainda, com o seu calor, aquilo que é impuro, aquece o que está frio e consome o que o que não presta». «Preparemo-nos pois, irmãos, para acolher o natal do Senhor, adornemo-nos com vestes puras e elegantes! Falo, claro está, das vestes da alma, não do corpo… Adornemo-nos não com seda, mas com obras boas! Pois as vestes elegantes ornam o corpo, mas não podem adornar a consciência; pois seria muito vergonhoso trazer sob elegantes vestes elegantes, uma consciência contaminada. Procuremos acima de tudo embelezar os nossos afectos íntimos, e poderemos então vestir belas roupas; lavemos as manchas da alma para usarmos dignamente roupas elegantes! Não adianta dar nas vistas pelas vestes se estamos sujos em pecados, porque quanto a consciência está escura, todo o corpo fica nas trevas. Temos, porém, com que lavar as manchas da nossa consciência. Pois está escrito: Dai esmola e tudo será puro em vós (Lc 11,41). É importante este mandamento da esmola: graças a ele, ao operarmos com as mãos ficamos lavados no coração».
São Máximo, bispo de Turim
São Máximo, bispo de Turim
«Nasceu hoje, irmãos, o nosso Salvador. Alegremo-nos! Não pode haver tristeza quando nasce a vida; a qual, destruindo o temor da morte, nos enche com a alegria da eternidade prometida. Ninguém está excluído da participação nesta alegria; a causa desta alegria é comum a todos, porque nossos Senhor, aquele que destrói o pecado e a morte, não tendo encontrado ninguém isento de pecado, a todos veio libertar. Exulte o santo porque está próxima a vitória; rejubile o pecador, porque é convidado ao perdão; reanime-se o pagão, porque é chamado à vida… Por isso é que, quando o Senhor nasceu, os anjos cantaram em alegria ‘glória a Deus nas alturas’ e anunciaram ‘paz na terra aos homens de boa vontade’. Porque vêem a Jerusalém celeste ser formada de todas as nações do mundo, obra inexprimível do amor divino, que, se dá tanto gozo aos anjos nas alturas do céu, que alegria não deverá dar aos homens cá na terra?».
São Leão Magno
São Leão Magno
«Esta é a nossa festa, isto celebramos hoje: a vinda de Deus ao meio dos homens, para que, também nós cheguemos a Deus… celebremos, pois, a festa: não uma festa popular, mas uma festa de Deus, não como o mundo quer, mas como Deus quer; não celebremos as nossas coisas mas as coisas daquele que é nosso Senhor…». «Não embelezemos as portas das casas, não organizemos festas, nem adornemos as estradas, não demos banquetes em nosso proveito nem concertos para mero agrado dos ouvidos, não exageremos nos adornos nem nas comidas… e tudo isto enquanto outros padecem fome e necessidades, esses que nasceram do mesmo barro que nós».
São Gregório de Nazianzo
São Gregório de Nazianzo
terça-feira, 24 de dezembro de 2024
Origens e significado da Missa do Galo
A Missa do Galo é a que se celebra à meia-noite de 24 para 25 de Dezembro. O nome 'Missa do Galo' deriva da tradição segundo a qual à meia-noite de 24 para 25 de Dezembro um galo cantou como nunca se tinha ouvido de outro animal semelhante, anunciando a vinda do Messias, filho de Deus vivo, Jesus Cristo.
Um costume da província de Toledo, na Espanha, consistia em que, antes de baterem as 12 badaladas da meia-noite de 24 de Dezembro, cada lavrador matava um galo em memória daquele que cantou três vezes quando Pedro negou Jesus. A ave era depois levada para a Igreja a fim de ser oferecida aos pobres, que viam assim o seu Natal melhorado.
Era costume, em algumas aldeias espanholas e portuguesas, levar o galo para a igreja, a fim de que este cantasse durante a missa, significando um prenúncio de boas colheitas.
A Missa do Galo foi instituída no século V, após o Concílio de Éfeso (431 d.C.), começando a ser celebrada na basílica do monte Esquilino, erigida pelo o Papa Sisto III em honra de Nossa Senhora. Trata-se da famosíssima Basílica de Santa Maria Maggiore. O galo foi escolhido como símbolo desta celebração porque representa vigilância, fidelidade e testemunho cristão.
Nos primeiros séculos, as vigílias festivas eram dias de jejum. Os fiéis reuniam-se na igreja e passavam a noite rezando e cantando. A igreja era toda iluminada com lâmpadas de azeite e tochas. Para iluminar a Missa havia círios e tochas junto ao altar, enquanto as paredes eram revestidas de panos e tapetes. O templo era perfumado com alecrim, rosmaninho e murta. Em alguns locais mais frios, era costume deitar palha no chão para aquecer o ambiente.
Dada a sua importância, pois anuncia o nascimento do Deus vivo – eis que o verbo se fez carne (Jo, 1, 14) –, o próprio Papa, bispo de Roma, conduzia a celebração pessoalmente, pois ele é sucessor de Pedro, o apóstolo que Jesus mesmo designou como Príncipe dos Apóstolos (Mt 16, 18).
A missa de Natal começava com um cântico natalício. No momento do “Gloria in excelsis Deo”, as campainhas tocavam para assinalar o nascimento do Redentor. No fim da missa, todos iam oscular o Menino. Em algumas igrejas, o presépio estava velado até à altura do cântico.
Hoje, tradicionalmente, depois da missa, as famílias voltam para as suas casas, colocam a imagem do Menino Jesus no Presépio, cantam hinos e orações em memória do Messias, Filho de Deus. Segue-se a confraternização partilha da Ceia de Natal, com eventual distribuição de presentes.
Por que razão o Natal é no dia 25 de Dezembro?
De facto, por este manuscrito ficamos a saber que a semana em que entravam de serviço, no Templo, os Sacerdotes da classe de Abias, à qual pertencia Zacarias, tinha o seu início a 23 de Setembro e terminava a 30 do mesmo mês. Acrescentando 9 meses temos o 24 de Junho. Ora, pelos Evangelhos, nós sabemos, que logo após a Anunciação do Anjo à sempre Virgem Maria, portanto da Encarnação do Verbo no seu seio, ela se dirigiu “à pressa” para auxiliar sua prima Santa Isabel, grávida de seis meses (“ … já está no sexto mês aquela que é tida por estéril” – Lc 1, 37), que vivia a três dias de jornada.
Seis meses depois da última semana de Setembro é a última semana de Março. A Igreja celebra a Encarnação de Jesus, Deus filho, acontecida aquando da Anunciação do Anjo, por virtude do Espírito Santo, a 25 de Março. Ora 25 de Dezembro é 9 meses depois de 25 de Março.
Pe. Nuno Serras Pereira
Pe. Nuno Serras Pereira
segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
domingo, 22 de dezembro de 2024
O que é a Santa Missa?
sábado, 21 de dezembro de 2024
Dia de São Tomé, Apóstolo
No calendário antigo hoje é dia de São Tomé. Esta representação, bem menos conhecia do que a de Caravaggio, chega-nos pelas mãos de Velasquez. A este apóstolo é dedicada uma importante passagem do evangelho (Jo 20, 24-29) em que ele negou acreditar na ressurreição de Jesus caso não O visse com os seus próprios olhos.
Nosso Senhor acabou por lhe aparecer, dizendo que tocasse nas Suas chagas, desta forma provando que era realmente Ele e que tinha ressuscitado dos mortos. São Tomé não precisou de o fazer. Compensou a sua incredulidade com umas das melhores expressões da fé católica que o mundo já conheceu: "Meu Senhor e meu Deus". É isso mesmo que é Jesus Cristo.
sexta-feira, 20 de dezembro de 2024
Porquê Nossa Senhora do Ó?
Nossa Senhora do Ó é uma devoção mariana surgida em Toledo, na Espanha, instituída no século VI pelo décimo Concílio de Toledo, ilustre na História da Igreja pela dolorosa, humilde, edificante e pública confissão de Potâmio, Bispo bracarense, pela leitura do testamento de São Martinho de Dume e pela presença simultânea de três santos de origem espanhola: Santo Eugénio III Bispo de Toledo, São Frutuoso de Braga e o então abade Santo Ildefonso.
Santo Eugénio foi sucedido no cargo por seu sobrinho, Santo Ildefonso, que determinou que essa festa se celebrasse no dia 18 de Dezembro com o título de Expectação do Parto da Beatíssima Virgem Maria.
Os dois nomes têm o mesmo significado e objectivo: os anelos santos da Mãe de Deus por ver o seu Filho nascido. Anelos de milhares e milhares de gerações que suspiraram pela vinda do Salvador do mundo, desde Adão e Eva, e que se recolhem e concentram no Coração de Maria, como no mais puro e limpo dos espelhos.
A Expectação (expectativa) do parto não é simplesmente a ansiedade, natural na mãe jovem que espera o seu primogénito, é o desejo inspirado e sobrenatural da "bendita entre as mulheres", que foi escolhida para Mãe Virgem do Redentor dos homens, para co-redentora da humanidade. Ao esperar o seu Filho, Nossa Senhora ultrapassa os ímpetos afectivos de uma mãe comum e eleva-se ao plano universal da Economia Divina da Salvação do mundo.
As antífonas maiores que põe a Igreja nos lábios dos seus sacerdotes desde o dia 18 de Dezembro até a Véspera do Natal e começam sempre pela interjeição exclamativa Ó ("Ó Sabedoria... vinde ensinar-nos o caminho da salvação"; "Ó rebento da Raiz de Jessé... vinde libertar-nos, não tardeis mais"; "Ó Emanuel..., vinde salvar-nos, Senhor nosso Deus"), como expoente altíssimo do fervor e ardentes desejos da Igreja, que suspira pela vinda de Jesus, inspiraram ao povo espanhol a formosa invocação de "Nossa Senhora do Ó".
Em Portugal
Em Portugal, o culto à Expectação do Parto, ou a Nossa Senhora do Ó, teria se iniciado em Torres Novas (Santa Maria, Frei Agostinho de - Santuário Mariano), onde uma antiga imagem da Senhora era venerada na Capela-mor da Igreja Matriz de Santa Maria do Castelo. Esta imagem era conhecida à época de D. Afonso Henriques por Nossa Senhora de Almonda (devido ao Rio Almonda, que banha aquela povoação), à época de D. Sancho I por Nossa Senhora da Alcáçova (c. 1187) ou, a partir de 1212, quando se lhe edificou (ou reedificou) a igreja, por Nossa Senhora do Ó. Esta imagem é descrita pelo mesmo autor como:
É esta santa imagem de pedra mas de singular perfeição. Tem de comprimento seis palmos. No avultado do ventre sagrado se reconhecem as esperanças do parto. Está com a mão esquerda sobre o peito e a direita tem-na estendida. Está cingida com uma correia preta lavrada na mesma pedra e na forma de que usam os filhos de meu padre Santo Agostinho.
Nossa Senhora do Ó é a padroeira de dezoito freguesias portuguesas, situadas na sua maioria nas dioceses mais setentrionais do país
No Brasil
No Brasil, o culto iniciou-se à época do início da colonização, com o Capitão donatário Duarte Coelho, na Capitania de Pernambuco. Tendo fundado a vila de Olinda, nessa povoação erigiu-se uma Igreja sob a invocação de São João Baptista, administrada por militares, onde era venerada uma imagem de Nossa Senhora da Expectação ou do Ó. De acordo com Frei Vicente Mariano, também se tratava de uma imagem pequena com cerca de dois palmos de altura, entalhada em madeira e estofada, de autoria e origem desconhecida. A tradição reputa esta imagem como milagrosa, tendo vertido lágrimas em 28 de Julho de 1719.
A partir dessa primitiva imagem em Olinda, a devoção se espalhou em terras brasileiras graças a cópias na Ilha de Itamaracá, em Goiana, em Ipojuca e em São Paulo, nesta última em casa da família de Amador Bueno e na do bandeirante Manuel Preto que fundou a igreja e o bairro bem conhecidos até hoje. Os bandeirantes, por sua vez levaram a devoção para Minas Gerais, onde, em Sabará, se erige a magnífica Capela de Nossa Senhora do Ó, em estilo indo-europeu, actualmente tombada pelo Iphan. É venerada também em Icó onde fazem uma grande festa anual.
Iconografia
A imagem de Nossa Senhora do Ó sempre apresenta a mão esquerda espalmada sobre o ventre. A mão direita pode também aparecer em simetria à outra ou levantada. Encontram-se imagens com esta mão segurando um livro aberto ou também uma fonte, ambos significando a fonte da vida. Em Portugal essas imagens costumavam ser de pedra e, no Brasil, de madeira ou argila.
No século XIX, muitas imagens foram trocadas pela da Nossa Senhora do Bom Parto, com o ventre disfarçado pela roupa. Somente no fim do século XX se voltou a falar e pesquisar o assunto, tendo-se encontrado imagens antigas enterradas sob o altar das igrejas.
* * *
As Antífonas do Ó foram compostas entre o século VII e o século VIII, sendo um compêndio de cristologia da antiga Igreja, um resumo expressivo do desejo de salvação, tanto de Israel no Antigo Testamento, como da Igreja no Novo Testamento. São orações curtas, dirigidas a Cristo, que resumem o espírito do Advento e do Natal.
Expressam a admiração da Igreja diante do mistério de Deus feito Homem, buscando a compreensão cada vez mais profunda de seu mistério e a súplica final urgente: «Vem, não tardes mais!». Todas as sete antífonas são súplicas a Cristo, em cada dia, invocado com um título diferente, um título messiânico tomado do Antigo Testamento (Antífonas do Ó: O antigo e o novo na oração litúrgica do advento. - São Paulo: Paulinas, 1997).
De acordo com D. Guéranger (Abade de Solesmes, França, +1875), ‘as Antífonas do Ó contêm todo o núcleo do período litúrgico’. São consideradas, ainda, ‘as pérolas que exprimem o tesouro escondido no campo deste Tempo, configurando a coroa do Rei dos reis!’
in heroinasdacristandade.blogspot.com
domingo, 15 de dezembro de 2024
sábado, 14 de dezembro de 2024
Cardeal pede que os fiéis não se ajoelham para comungar porque "perturba o fluxo da procissão"
O Cardeal Blaise Cupich de Chicago, EUA, publicou uma nota sobre a liturgia a 11 de Dezembro, principalmente para desencorajar o ajoelhar-se para receber a Sagrada Comunhão.
Entre muitas palavras, a frase principal é esta: "A norma estabelecida pela Santa Sé para a Igreja Universal e aprovada pela Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos é que os fiéis se dirijam juntos como uma expressão do seu avançar como Corpo de Cristo e recebam a Sagrada Comunhão de pé."
E, "Certamente a reverência pode e deve ser expressa inclinando-se antes de receber a Sagrada Comunhão, mas ninguém deve envolver-se num gesto que chame a atenção para si próprio ou perturbe o fluxo da procissão."
in gloria.tv
A coroa oferecida a Nossa Senhora pelas mulheres portuguesas
sexta-feira, 13 de dezembro de 2024
O processo judicial e o corajoso martírio de Santa Luzia
Santa Luzia foi uma mártir dos primeiros séculos do Cristianismo (304 d.C.). Dotada de grande beleza física foi cobiçada por um jovem que também vivia em Siracusa (Sicília). Como não correspondesse aos intentos desse jovem, este denunciou Luzia ao Tribunal de Pascácio por ser cristã.
Pascásio citou a donzela perante o tribunal e intimou-a a sacrificar aos deuses e a cumprir a palavra dada ao cidadão.
“Nem uma, nem outra coisa farei”, respondeu Luzia. “Adoro a um só Deus verdadeiro, a Ele prometi fidelidade e a mais ninguém”.
Pascásio, então, disse: “Devo exigir que respeites a ordem imperial: de prestar homenagem aos deuses e cumprir o que prometeste”.
Luzia: “Fazes bem em cumprir as ordens do Imperador[2]; eu cumpro as que Deus me deu. Se tens medo dos poderes de um homem mortal, eu temo os juízos de Deus; a Ele devo sujeitar-me”.
Pascásio: “Deixa de falar fanfarronices, se não queres que a tortura te ensine usar de outra linguagem.”
E ela: “Aos servos de Deus não faltará a palavra, porque Cristo disse: ‘Se estiverdes diante de reis e governadores, não cuideis como haveis de falar; porque não sereis vós quem fala, mas por vós falará o espírito de Deus’.”
Pascásio: “Está em ti o espírito de Deus?”
Luzia: “Quem vive casta e santamente, é templo do Espírito divino”.
Pascásio: “Se assim é, farei com que deixes de ser templo de Deus, e verás como te haverás com a castidade”.
Luzia: “Sem a minha vontade a virtude nada sofrerá: Podes à força pôr incenso em minhas mãos, para que o ofereça aos deuses; de nada vale, porque Deus, que conhece o coração, não me julgará pelo que fiz sob coação. Não poderei resistir à força, mas a minha virtude receberá dupla coroa”.
A ordem do governador foi posta logo em execução.
Luzia saiu do tribunal, entregue à vontade e brutalidade dos homens, mas cheia de confiança em Deus e invocando-Lhe o auxílio.
E eis como Deus lhe recompensou a Fé: Quando os verdugos puseram mãos à obra, para levar a donzela ao lugar determinado, força nenhuma foi capaz de fazê-la mover-se de onde estava. O facto causou grande estupefação.
Mas em vez de reconhecer nisto o poder de Deus, que defende os seus, os pagãos viram uma obra de feitiçaria. Foram chamados os sacerdotes e magos, para desencantar o feitiço, mas nada conseguiram. Luzia resistiu heroica e superiormente a todas as tentativas dos inimigos.
Pascásio idealizou outro plano. Ordenou que despejassem sobre a virgem: azeite, piche e resina, e ateassem uma grande fogueira ao redor. Outra maravilha! Subiram as labaredas, e a densa fumaça encobriu a figura da donzela, a qual, porém, ficou ilesa.
Luzia foi então vítima de várias torturas, sendo que uma delas foi de arrancar os seus olhos, que foram colocados numa bandeja e entregues ao seu ex-pretendente. Mesmo assim, no dia seguinte os olhos de Luzia apareceram no seu rosto, intactos.
Ao ver isto, Pascásio, encolerizado e confuso, deu ordem a um soldado para que, com a espada, lhe cortasse a cabeça, atravessando a garganta daquela que, jubilosa e triunfante, exortava aos assistentes do espectáculo que abandonassem os falsos ídolos.
A ferida foi mortal. Luzia entregou o espírito a Deus, para receber a palma do vitorioso martírio.
quinta-feira, 12 de dezembro de 2024
Charles de Foucauld descreve como Deus o tirou dos maus caminhos
Ia-me afastando mais e mais de Vós, meu Senhor e minha vida, e a minha vida
começava a ser uma morte, ou antes, era já uma morte a vossos olhos. E neste
estado de morte me conserváveis ainda.
A fé tinha desaparecido por completo, mas o respeito e a estima haviam permanecido
intactos. Concedíeis-me outras graças, meu Deus, mantínheis em mim o gosto pelo
estudo, pelas leituras sérias, pelas coisas belas, a repugnância pelo vício e
pela fealdade. Fazia o mal, mas não o aprovava nem o amava. Dáveis-me essa vaga
inquietação de uma má consciência que, por adormecida que esteja, nem por isso
está morta.
Nunca senti esta tristeza, este mal-estar, esta inquietação, senão nessa
altura. Era, pois, um dom vosso, meu Deus; que longe estava eu de suspeitar de
que assim fosse! Que bom sois! E, ao mesmo tempo que impedíeis a minha alma,
por essa invenção do vosso amor, de se afundar irremediavelmente, preserváveis
o meu corpo: pois se tivesse morrido nessa altura, teria ido para o inferno. Os
perigos da viagem, tão grandes e tão numerosos, de que me fizestes sair como
que por milagre! A saúde inalterável nos lugares mais malsãos, apesar de tão
grandes fadigas!
Ó meu Deus, como tínheis a vossa mão sobre mim, e quão pouco eu a sentia!
Como me protegestes! Como me abrigastes sob as vossas asas, quando eu nem
sequer acreditava na vossa existência! E, enquanto assim me protegíeis, e o
tempo ia passando, parecia-Vos que tinha chegado o momento de me reconduzir ao
cercado.
Desfizestes, apesar de mim, todos os laços maus que me teriam mantido
afastado de Vós; desfizestes mesmo todos os laços bons que me teriam impedido
de ser, um dia, todo vosso. Foi a vossa mão, e só ela, que fez disto o começo,
o meio e o fim. Que bom sois!
Era necessário fazê-lo, para preparar a minha alma para a verdade; o
demónio é excessivamente senhor de uma alma que não é casta, para nela deixar
entrar a verdade; não podíeis entrar, meu Deus, numa alma onde o demónio das
paixões imundas reinava como senhor. Queríeis entrar na minha, ó Bom Pastor, e
fostes Vós que dela expulsastes o vosso inimigo.
Charles
de Foucauld (1858-1916), eremita e missionário no Saara in 'Retiro
em Nazaré', Novembro de 1897
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